20 juin 2014

"amanhã não faltes porque vamos no banco da frente"; conversas em murmúrios às 2:46.
eu não gosto da maneira como escrevo. todas as palavras são medidas com uma régua e colocadas no devido sítio, como se as pudesse separar a todas e guardá-las em gavetas e debaixo da almofada, como armas.
"estou na minha cama, sinto-me mais seguro" mas eu estou a ouvir-te; tu estás a contar-me onde te escondes quando nós morremos e quando as tempestades nascem e há uma velha a caminho.
às vezes, gostava que os meus ossos fossem pó e eu pudesse dobrar os braços em partes não-dobráveis para poder tocar a minha cara de diferentes ângulos. há uma forma especial de tocar na cara. e magoa. magoa quando és tu.
eu não sou tua; não me tentes esconder por entre a roupa da cama.
sou mais bonita quando não me chamas pelo meu nome.

17 juin 2014

lembro-me que as ondas eram enormes, as maiores ondas que já vira. tão grandes que me derrubaram, como no primeiro dia de escola.
como nunca consegui arder e queimar a cama e dormir no chão. dormir com o cheiro da terra e acordar com a cara suja e fugir pela noite e queimar todos os campos por queimar e incendiar a noite com labaredas tão altas que queimavam as nuvens e nunca mais chovia. nunca mais se apagavam os campos. e eu a sonhar, deitada no chão, sem cama - sempre sem cama. a acordar e nunca mais esconder a cara imunda e sorrir para todos com os dentes escuros e nunca esconder os dentes; nunca a murmurar. e nunca queimada.
deitada na tua cama - tu sempre com cama - a tornar as noites todas iguais, a não querer estar de pé nem deitada, a não querer que me toques - por favor, não me toques - mas nunca a implorar.
a entrar em bares e a pedir água. sem medo de apagar; eu nunca deixaria de arder.
a pedir fotografias de toda a gente e a dormir sobre elas.
a convidar-te para te aninhares em mim e fazer uma fogueira sobre as tuas costas enquanto dormias com a barriga assente no solo. não te quero aqui. não te quero aqui se não estiveres a arder.