lembro-me que as ondas eram enormes, as maiores ondas que já vira. tão grandes que me derrubaram, como no primeiro dia de escola.
como nunca consegui arder e queimar a cama e dormir no chão. dormir com o cheiro da terra e acordar com a cara suja e fugir pela noite e queimar todos os campos por queimar e incendiar a noite com labaredas tão altas que queimavam as nuvens e nunca mais chovia. nunca mais se apagavam os campos. e eu a sonhar, deitada no chão, sem cama - sempre sem cama. a acordar e nunca mais esconder a cara imunda e sorrir para todos com os dentes escuros e nunca esconder os dentes; nunca a murmurar. e nunca queimada.
deitada na tua cama - tu sempre com cama - a tornar as noites todas iguais, a não querer estar de pé nem deitada, a não querer que me toques - por favor, não me toques - mas nunca a implorar.
a entrar em bares e a pedir água. sem medo de apagar; eu nunca deixaria de arder.
a pedir fotografias de toda a gente e a dormir sobre elas.
a convidar-te para te aninhares em mim e fazer uma fogueira sobre as tuas costas enquanto dormias com a barriga assente no solo. não te quero aqui. não te quero aqui se não estiveres a arder.
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