16 avril 2013

entre mim e o que eu sou

nestas últimas semanas, não tenho o que escrever. tudo aquilo que preenche a minha mente não pode ser transposto para fora de mim. tento guardar toda esta massa de pensamentos que me incomoda num qualquer compartimento. mas, assim que abro a pequena porta que me separa do que realmente sou, eles tentam fugir. e estão em todo o lado. até nestas desajeitadas mãos que tremem quando escrevo. pergunto-me se estarão no meu cabelo e se será essa a explicação que descansa no meio de tantos emaranhados. 
não - o que sou não se transporta para fora de mim. o que me habita também não: percorre-me a espinha, soluça por entre os seus elos e pelos meus dedos. implora-me que se deixe pavonear porque está na flor da idade. e porque, mais tarde, a espinha vai-se curvar e alguns dos elos vão-se partir. os dedos vão ficar ossudos e ainda mais retorcidos. não haverá sítios bonitos para percorrer e o que em mim habita morrerá.
mas digam-me se será correcto ceder à pressão de tais criaturas. se será correcto deixar o que em mim habita livre. ou se, eventualmente, acabarei por ser consumida...

ainda não completei os meus dezoito anos e já o meu medo tem cem. 

10 avril 2013

"Suspirou profundamente, e arremessou-se - havia nos seus gestos uma paixão que justifica o termo - ao chão, junto do carvalho. Adorava sentir-se debaixo de si, por baixo de toda esta efemeridade estival, a espinha da terra; pois espinha se lhe afigurava ser a dura raiz do carvalho; ou então, e porque as imagens sucedem umas às outras, seria o dorso de um grande cavalo que ele cavalgasse; ou o convés de um navio sacudido pelas ondas - podia ser qualquer coisa, no fundo, contanto que fosse forme, pois Orlando precisava de algo a que pudesse prender o seu coração à deriva; o coração que lhe palpitava do lado esquerdo; o coração que todas as tardes, quando por esta hora saía de casa, parecia encher-se de ventos fragrantes e arrebatados. Ao carvalho o amarrou, e ali deitado sentiu sossegar gradualmente a agitação dentro de si e à sua volta; as folhas tenras penderam inertes, os veados estacaram; as pálidas nuvens de Verão pararam de correr; os seus membros assentes no chão entorpeceram-se; e ficou tão imóvel que a pouco e pouco os veados se foram aproximando, as gralhas rodopiaram em seu redor, as andorinhas mergulharam no ar, voando em círculos, e as libélulas passaram como setas, como se toda a fertilidade e actividade amorosa da tarde de Verão tecessem em volta do seu corpo uma espécie de teia."