10 avril 2013

"Suspirou profundamente, e arremessou-se - havia nos seus gestos uma paixão que justifica o termo - ao chão, junto do carvalho. Adorava sentir-se debaixo de si, por baixo de toda esta efemeridade estival, a espinha da terra; pois espinha se lhe afigurava ser a dura raiz do carvalho; ou então, e porque as imagens sucedem umas às outras, seria o dorso de um grande cavalo que ele cavalgasse; ou o convés de um navio sacudido pelas ondas - podia ser qualquer coisa, no fundo, contanto que fosse forme, pois Orlando precisava de algo a que pudesse prender o seu coração à deriva; o coração que lhe palpitava do lado esquerdo; o coração que todas as tardes, quando por esta hora saía de casa, parecia encher-se de ventos fragrantes e arrebatados. Ao carvalho o amarrou, e ali deitado sentiu sossegar gradualmente a agitação dentro de si e à sua volta; as folhas tenras penderam inertes, os veados estacaram; as pálidas nuvens de Verão pararam de correr; os seus membros assentes no chão entorpeceram-se; e ficou tão imóvel que a pouco e pouco os veados se foram aproximando, as gralhas rodopiaram em seu redor, as andorinhas mergulharam no ar, voando em círculos, e as libélulas passaram como setas, como se toda a fertilidade e actividade amorosa da tarde de Verão tecessem em volta do seu corpo uma espécie de teia."

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