se há dualidade que me assusta é a da gravidade. ironicamente, eu sinto-me como se eu fosse ar. e flutuo pelo enorme espaço, aparentemente sem limites e metas. sofro sucessivas metamorfoses até me tornar no que pretendo. costumo comprar esta sensação à evolução de um pequeno girino até se tornar num grande e gordo sapo. também eu me vou transformando na minha ascensão, mas contrariamente ao sapo, vou-me desagregando e tornando cada vez mais leve. quando chove, posso quase jurar que sinto a chuva a passar por entre mim. contudo, tenho de dar razão a um detestável ditado popular: "quanto maior é a subida, maior é a queda". e apesar do meu corpo ser leve, o mesmo não se pode dizer do meu pesadíssimo coração. inevitavelmente, este tomba em direcção ao planeta-mãe e eu sou sugada para a terra. durante a queda, revejo tantas memórias como o número de estrelas que me cerca. e isso assusta-me. a queda é inevitável, o peso é inevitável.
já outras vezes agradeço a enorme pedra que me enche o coração. às vezes é bom sentirmo-nos tão atraídos que somos espalmados contra a terra. olhamos o céu e aceitamos a distância que nos separa dele. mas por vezes, nesses momentos, desejo perder subitamente toda a carga e deixar de ser atraída, sendo disparada de forma tão veloz contra o outro lado de tudo.
um dia hei-de ter um planeta só meu e sem gravidade. mas claro que isto tudo são meras situações hipotéticas.
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